Universidade Federal de Pelotas
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CADASTRO DE PROJETO DE PESQUISA
 Dados do Projeto
Código: 5.04.01.020
Título do Projeto
O bem-estar animal na criação orgânica de rebanhos leiteiros
Data de cadastro
18/05/2009
Unidade
Departamento
Objetivos
Objetivo geral: Investigar os níveis de saúde e bem-estar de vacas leiteiras nos sistemas de produção orgânica no Brasil. Objetivos específicos: Avaliar os índices produtivos e tratamentos de doenças feitos no período de um (1) ano. Avaliar o bem-estar de vacas leiteiras em sistema orgânico, considerando-se as particularidades do sistema em estudo. Investigar as atitudes dos produtores com relação ao sistema e ao bem-estar animal.
Subárea de conhecimento
5.04.01.00-9 (CNPq)
Grupo de Pesquisa do Coordenador
GECAP - Grupo de estudo em Comportamento doa Animais de Produção
Prazo de execução
48 meses
Início
01/05/2009
Término
01/05/2013
Fonte financiadora
CAPES,Outros organismos nacionais
PROAP-CAPES
Valor liberado
R$ 86.400,00
Coordenador do Projeto
SIAPE Nome E-mail HS
1649838 Isabella Dias Barbosa Silveira isabella.barbosa@ufpel.edu.br 3
Colaboradores
Nome Instituição HS
Luiz Carlos Pinheiro Machado FilhoUFSC3
Alunos envolvidos
Unidade Nome Curso HS
FAEMLuciana Aparecida HonoratoPPGZ20
FAEMLívia LourençoZootecnia10
FAEMMarcos CasagrandeAgronomia10
FAEMSilvana CarrilhosZootecnia10
FAEMBianca GonçalvesZootecnia10
FAEMAlanna TerresAgronomia10
FAEMNatália Avila de CastroAgronomia10
FAEMAmanda da Silva FonsecaAgronomia10
Envolve experimentação com modelos animais? NÃO - Registro no CEEA:
Envolve experimentos utilizando vírus, microorganismos patogênicos, ou organismos geneticamente modificados? NÃO
Possui Certificado de Qualidade em Biossegurança ou em processo de qualificação?



Resumo:

Recentemente, pesquisas indicam que o leite produzido por vacas que pastam naturalmente e tem uma dieta à base de feno é mais rico em antioxidantes, vitaminas, carotenóides e ácidos graxos, como o ômega 3 e o ácido linoléico (Butler et al. 2008, Ellis et al. 2006). Os níveis de ácidos graxos essenciais também foram superiores em amostras de queijo de búfala produzido em sistema orgânico quando comparado ao sistema convencional (Bergamo et al. 2003). Além da qualidade nutricional, a produção de leite em sistema orgânico visa diminuir o uso de produtos químicos nos tratamentos dos animais. Sabe-se que o leite e seus derivados são os produtos de origem animal mais suscetíveis a diferentes tipos de contaminação, seja biológica ou química, durante o processo de produção. Souza (1998), por exemplo, encontrou 50% das amostras positivas, 44% suspeitas e somente 5% negativas para resíduos de antibióticos no leite comercializado em Santa Catarina. Contaminações dessa natureza fazem com que o mercado consumidor busque produtos mais saudáveis e seguros. Apesar do uso de antibióticos ser significativamente menor no sistema orgânico (Hovi e Roderick, 1999), a maioria dos produtores usa esses produtos para tratar os casos mais severos de mastite (Lund, 2003). Na Alemanha, por exemplo, os métodos terapêuticos convencionais ainda são a principal forma de tratamento para as diversas doenças encontradas em rebanhos orgânicos (Krutzinna et al., 1996). Portanto, o maior desafio desse sistema se encontra na redução do nível de tratamento de doenças (Vaarst e Bennedsgaard, 2001). Esse problema é considerado um dos principais entraves na conversão para o orgânico. Dessa forma, na criação animal orgânica, uma estratégia de tratamento sem o uso de antibióticos está baseada primeiramente na melhoria da saúde dos animais a longo prazo, enfatizando manejos preventivos e, secundariamente, buscando tratamentos alternativos para as doenças. Técnicas como a melhoria na higiene têm sido adotadas por produtores orgânicos dinamarqueses (Vaarst et al., 2006). No Reino Unido, estratégias de controle de parasitas internos baseadas somente no manejo mostraram-se bem sucedidas nas fazendas orgânicas (SAC, 2007). Na Noruega, Hardeng e Edge (2001) concluíram que os produtores orgânicos tem atitudes e práticas diferentes na resolução de doenças e, possivelmente, demonstrem melhores habilidades do que os produtores convencionais, o que explicaria o menor registro de tratamentos para mastite nos rebanhos orgânicos. Além disso, em alguns aspectos, como o suprimento de necessidades biológicas e etológicas, os sistemas de produção orgânica podem ser melhores do que o convencional, por enfatizar a manutenção de altos padrões de qualidade do produto e saúde e bem-estar animal (Von Borell e Sorensen, 2004). Na Europa, os estudos comparativos entre sistemas convencionais e orgânicos, utilizaram principalmente referências produtivas como contagem de células somáticas (CCS), produção leiteira, intervalo entre partos, idade do primeiro parto, entre outras (Sato et al., 2005; Nauta et al, 2006). Nessas pesquisas foram encontrados níveis produtivos diferentes do convencional e alguns autores consideram que se trata de “estilos de produtores” diferentes (Lund 2006, Verhoog, 2003, Vaarst et al., 2001). Tais estudos indicam que o que determina essas diferenças pode estar ligado à atribuição de valores intrínsecos dos animais pelos produtores, elevando o status do animal no sistema produtivo. Existe, porém, um dilema na criação animal orgânica, originado da visão ecocêntrica, onde a prioridade é ter um sistema saudável, o que não significa automaticamente bem-estar para o indivíduo e, ainda, se a proibição do uso de medicamentos químicos na produção orgânica acarretar na falta de tratamento dos animais quando necessário, então, essa normatização, que deveria melhorar o bem-estar dos animais pode levar ao oposto. Além disso, se nos sistemas ecológicos já há uma ruptura quanto à visão de “animal-máquina” em termos de expressão de seus comportamentos naturais, isso não ocorre quanto à pressão de produção dos animais, que pode ser comparada aos parâmetros produtivos do sistema convencional. Nos últimos anos, em países desenvolvidos, houve um avanço nos estudos sobre criação animal orgânica, enfocando o sistema produtivo, a saúde dos animais e as atitudes dos agricultores. Porém, no Brasil o tema é pouco estudado e não há praticamente nada sobre o perfil dos produtores, a saúde e o bem-estar dos animais nesse sistema. Para poder embasar pesquisas dessa natureza é fundamental que seja feita a aferição do bem-estar, em um modelo adaptado a realidade brasileira. O presente projeto permitirá que uma aluna de doutorado avalie unidades de produção de leite orgânico com relação ao bem-estar dos animais, com vistas a aplicar um modelo de diagnóstico de bem-estar animal que seja amplamente adotado e possa, futuramente, estabelecer padrões aceitáveis de bem-estar animal condizentes com as criações leiteiras do Brasil. Esse instrumento de avaliação de bem-estar animal poderá ser usado não somente com a finalidade prática de auditoria, mas também poderá ser adaptado para que os agricultores possam aplicar em seus próprios rebanhos, fazendo sua auto- avaliação. Isso permite que sejam feitas aproximações entre os pontos de vista de especialistas e produtores, diminuindo divergências e iniciando um processo crescente de adoção de melhores níveis de bem-estar.