Universidade Federal de Pelotas
 Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação
 Portal | PRPPG | Projetos de Pesquisa | Dados do Projeto


CADASTRO DE PROJETO DE PESQUISA
 Dados do Projeto
Código: 5.04.01.022
Título do Projeto
Relação entre mastite, dor e bem-esatr em bovinos leiteiros
Data de cadastro
05/01/2011
Unidade
Departamento
Objetivos
Estudar a relação entre a dor e o bem-estar animal em vacas leiteiras com mastite, verificando os efeitos na vida produtiva da vaca. Desenvolver e testar indicadores de dor em vacas leiteiras com infecções intramamárias; Investigar se vacas com diferentes graus de mastite apresentam alterações dos indicadores de dor; Investigar o efeito da droga antiinflamatória não-esteróide nos indicadores de dor; Avaliar o efeito da droga antiinflamatória não-esteróide sobre os indicadores produtivos.
Subárea de conhecimento
5.04.01.00-9 (CNPq)
Grupo de Pesquisa do Coordenador
GECAP- Grupo de Estudos em Comportamento dos Animais de Produção
Prazo de execução
50 meses
Início
01/10/2010
Término
01/12/2014
Fonte financiadora
CAPES
Valor liberado
R$ 86.400,00
Coordenador do Projeto
SIAPE Nome E-mail HS
1649838 Isabella Dias Barbosa Silveira isabella.barbosa@ufpel.edu.br 04
Colaboradores
Nome Instituição HS
Vivian FischerUFRGS04
Mabel Mascarenhas WiegandUFPEL04
Carlos Eduardo da Silva PedrosoUFPEL04
Lotar SiewerdtUFPEL04
Alunos envolvidos
Unidade Nome Curso HS
FAEMMônica Daiana de Paula PetersPPGZ20
Envolve experimentação com modelos animais? SIM - Registro no CEEA: 6537
Envolve experimentos utilizando vírus, microorganismos patogênicos, ou organismos geneticamente modificados?
Possui Certificado de Qualidade em Biossegurança ou em processo de qualificação?



Resumo:

A mastite é considerada a principal doença que afeta os rebanhos leiteiros do mundo e aquela que proporciona as maiores perdas econômicas na exploração de bovinos leiteiros. Estima-se que haja um prejuízo de cerca de US$ 1,8 bilhões/ano nos EUA em função da ocorrência de mastite. Já no Brasil, pode-se deduzir que em função da alta prevalência de mastite nos rebanhos, possam ocorrer perdas de produção entre 12 e 15%, o que significa um total de 2,8 bilhões de litros/ano em relação à produção anual de 21 bilhões de litros (FONSECA e SANTOS, 2000). A mastite caracteriza-se por uma inflamação da glândula mamária, geralmente de caráter infeccioso, podendo ser classificada como clínica ou subclínica. A mastite clínica apresenta sinais evidentes, tais como: edema, aumento de temperatura, endurecimento, dor na glândula mamária, grumos, pus ou qualquer alteração das características do leite (FONSECA e SANTOS, 2000). Na forma subclínica não se observa sinais visíveis de inflamação do úbere e sim alterações na composição do leite (CULLOR et al., 1994). Além das perdas decorrentes da redução na produção de leite e alterações na composição química do leite (FONSECA e SANTOS, 2000), fatores relacionados à dor e desconforto causado pela mastite e efeitos sobre o bem-estar animal devem ser considerados. Na produção animal, a importância de uma doença é freqüentemente julgada pelo impacto econômico direto, mas uma visão ampla exige um melhor entendimento de como determinada doença afeta o bem-estar animal (WELLS et al., 1998). Como ocorre em outras doenças, é difícil conhecer como a mastite afeta o bem-estar dos animais. No entanto, é conhecido que o efeito da mastite no animal depende da forma da doença. Por exemplo, mastite sistêmica tem uma longa duração do efeito em relação à mastite localizada (BAREILLE et al., 2003) e pode ter maiores conseqüências ao bem-estar. O bem-estar animal é um assunto amplamente discutido em escala mundial, o qual pode ser considerado uma demanda, pois os mercados consumidores, especialmente aqueles dos países desenvolvidos, tornaram-se cada vez mais exigentes no que diz respeito à qualidade do produto final. A Farm Animal Welfare Council (FAWC), órgão consultivo do governo britânico sobre bem-estar dos animais nas explorações pecuárias definiu as “Cinco Liberdades”, as quais são diretrizes para formar a base dos códigos atuais de recomendação para o bem-estar de todas as espécies de animais (FITZPATRICK et al., 2006). As cinco liberdades são: 1. A liberdade fisiológica (livre de fome e de sede); 2. A liberdade ambiental (livre de desconforto); 3. A liberdade sanitária (livre de dor, ferimento ou doença); 4. A liberdade comportamental (livre para expressar padrões normais de comportamento); 5. A liberdade psicológica (livre de medo e estresse). A terceira liberdade refere-se ao animal estar livre de dor, ferimento ou doença, ou seja, um animal que esta com inflamação da glândula mamária (mastite) está submetido à doença e, provavelmente, a dor, o que resulta no não atendimento desta liberdade, com efeitos negativos sobre o bem-estar animal. Além da questão ética e moral do bem-estar animal, a dor não-controlada é biologicamente prejudicial. A dor não-aliviada é biologicamente ativa, como um grande estresse biológico, e afeta numerosos aspectos da saúde física, desde a cura de ferimentos até a resistência a doenças infecciosas (ROLLIN, 2002). A preocupação com o bem-estar animal e controle da dor pode ser vantajosa para a própria produtividade, pois um animal com dor diminui, por exemplo, a ingestão de alimentos o que resultará em menor ganho de peso ou menor produção de leite (HELLEBREKERS, 2002). A habilidade para quantificar o grau de dor experimentada por animais é um importante componente na avaliação do bem-estar animal (BARNETT, 1997). No entanto, a avaliação de dor em animais de produção é freqüentemente difícil. Por exemplo, vacas podem não demonstrar sinais óbvios quando em dor crônica senão na redução da produção de leite (SHORT, 1998). É consensual entre os pesquisadores que o controle da dor em situações de enfermidades dos animais é essencial para o seu bem-estar. Dor associada com doenças inflamatórias, como a mastite, é provavelmente a maior fonte de dor em ruminantes (FITZPATRICK et al., 2006). Entretanto, pouco se conhece sobre indicadores de dor em bovinos. Existem estudos sobre indicadores de dor em ovinos domesticados (STUBSJOEN et al., 2009), mas faz-se necessário pesquisas que testem a aplicação destes para bovinos. Os estudos têm testados os seguintes parâmetros como indicadores de dor: limiar nociceptivo (PINHEIRO MACHADO FILHO et al., 1998; POTTER et al., 2006; STUBSJOEN et al., 2010), medidas comportamentais (WEARY et al., 2006; STUBSJOEN et al., 2009), termografia infravermelha (STEWART et al., 2008; STUBSJOEN et al., 2009), medidas de variabilidade da freqüência cardíaca (VON BORELL et al., 2007; STUBSJOEN et al., 2009), níveis de cortisol (KENT et al., 1993), níveis de proteínas inflamatórias (FITZPATRICK et al., 1998), entre outros. PETERS (comunicação pessoal, abril de 2010) encontrou uma variação significativa no limiar nociceptivo térmico de vacas com mastite clínica em relação a vacas com mastite subclínica, bem como em relação às sadias. Este resultado preliminar chama a atenção para a necessidade de maior investigação dos efeitos da mastite bovina, de diferentes graus, sobre os indicadores de dor já testados em outras espécies animais. Apesar do atual reconhecimento, pelas pessoas, da capacidade dos animais em sentir dor, nem sempre um tratamento adequado é seguido. Estudo examinando as atitudes de veterinários franceses revelou que 96% dos inquiridos eram moderadamente ou extremamente preocupados com reconhecimento e alívio da dor animal (HUGONNARD et al., 2004). Os dois principais motivos apresentados para a falta de tratamento foram dificuldades em reconhecer a dor e falta de conhecimento sobre a terapêutica adequada, destacando a necessidade de maior pesquisa e treinamento nesta área. O tratamento da dor em animais de produção não progrediu com a mesma intensidade que em animais de companhia, permanecendo um desafio para os profissionais ligados a atividade (SHORT, 2003). Algumas das razões para o baixo uso de medicamentos analgésicos em animais estão relacionadas a aspectos econômicos e práticos, tais como o baixo custo de cada animal em relação ao custo do tratamento ou a necessidade de maior mão-de-obra para aplicação dos tratamentos. Além disso, tem a preocupação com os resíduos das drogas nos alimentos de origem animal e a necessidade de observar o período de carência (VIÑUELA-FERNÁNDEZ et al., 2007). Entre as drogas mais populares da atualidade que tem demonstrado eficácia no tratamento da dor estão os anti-inflamatórios não-esteróides (AINEs), os quais compartilham ações terapêuticas, incluindo uma capacidade analgésica, anti-inflamatória e antipirética (GAYNOR e MUIR, 2009). Para o tratamento da mastite utiliza-se rotineiramente antibióticos, mas AINEs podem também ser utilizados para melhorar o bem-estar e aumentar a velocidade de recuperação de animais doentes (FITZPATRICK et al., 2006). Contudo, até o momento poucos estudos (FITZPATRICK et al., 1998) foram desenvolvidos para avaliar os efeitos de determinado AINEs sobre indicadores de dor relacionado à mastite, bem como sobre o desempenho produtivo. Desta forma, acredita-se que um tratamento polimodal (antibiótico + AINEs) para mastite resultará em benefícios, detectados através dos indicadores de dor testados, bem como efeitos sobre a vida produtiva da vaca.